A morte de Adriano e os vínculos reais entre política e crime organizado

Afinal, Sergio Moro vai tomar alguma providência?
Esta semana começa com uma pergunta que o ministro da Justiça Sérgio Moro terá de responder com atitudes.
Haverá alguma providência do Ministério da Justiça para investigar a morte do miliciano Adriano Nóbrega numa operação da polícia de dois estados, fator que dá ao caso caráter federal?
A Emenda Constitucional 45/2004 prevê o deslocamento da competência para a Justiça Federal quando a ação dos órgãos estaduais se revelar inadequada ou mostrar-se evidentemente ineficiente.
Quando Marielle Franco e o motorista dela, Anderson Gomes, foram assassinados, a Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, instaurou procedimento para definir se era o caso "federalizar" a investigação.
Naquele caso, partiu do Conselho Nacional do Ministério Público uma liminar para preservar a autonomia do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Tudo agora mudou de figura. Estão configuradas as condições para os casos em que o Superior Tribunal de Justiça vê violação de direitos humanos e problemas nas investigações estaduais.
A execução de Adriano é mais grave porque duas polícias também precisam ser investigadas. Mais do que ineficientes, as polícias do Rio e da Bahia foram cúmplices de um assassinato feito nos moldes das milícias.
Ou vamos dar de barato que polícia militar pode funcionar como milícia? Foi essa percepção que fez da polícia do Rio um dos maiores exemplos de polícia corrupta e ineficiente.
Alguma providência precisa ser adotada, tanto pela PGR quanto pelo Ministério da Justiça.
Moro não poderá mais dizer que o problema é da polícia baiana, como fez esta semana. Talvez agora as pessoas comecem a entender as consequências reais de uma série de cumplicidades que ao longo dos anos se estabeleceu entre os poderes.
Bolsonaro condenou esse sistema e se elegeu prometendo moralizá-lo, a começar por nomear ministros sem o "toma lá, dá cá".
Sérgio Moro é quem personaliza essa nova postura e, por isso, passou a ter problemas com o presidente eleito.
Em política, como na vida, os vínculos reais são os que definem o rumo das coisas. Também seria muito bom que as pessoas levassem em conta um fator civilizatório: dar de ombros ao assassinato institucional mostra o quanto ainda somos bárbaros, mesquinhos e bobos porque deixamos de notar que qualquer um de nós pode ser refém do mesmo processo, a violência urbana é muito fruto disso também. Mas poucos percebem as conexões.

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