Os defeitos de João Doria
O que ele é fala mais alto |
Os defeitos do homem João Doria começam aí mesmo, o que ele é fala muito alto, não importando o que ele diz.
Dizem que o estilo Doria nasce da sede pelo poder. Ora bolas! Sede pelo poder é o que caracteriza os políticos desde o início dos tempos. Sede de poder alimentada, primeiro, pela sede de ficar rico.
Sendo milionário e executivo e, acima disso, um apresentador de televisão, misto de Sílvio Santos com Amaury Ribeiro, o governador de São Paulo seria um campeão mundial em simpatia, tranquilidade, confiança e bem-estar.
Quer um exemplo de político que despertava tudo isso mesmo sendo sério, chato e até meio autoritário? Mário Covas, o ex-governador de São Paulo. Entre muros, o “espanhol”, como era chamado, não perdoava traição. E confiava plenamente no “japonês”, Yoshiaki Nakano, seu secretário da Fazenda, que o ajudou a colocar em ordem as finanças do Estado de São Paulo, iniciando uma rota de desenvolvimento que fez o estado responder por 42% do PIB brasileiro.
Aí está, a dupla confiança e fidelidade é algo em falta nas prateleiras do atual governador. Dizer prateleira é dizer comércio de características pessoais. É fazer comércio de dois atributos que chegam na frente, que fazem alguém ser visto e ouvido independentemente do que a pessoa é no seu estilo pessoal, como Mário Covas.
Doria elegeu-se prefeito de São Paulo prometendo levar a sério seu mandato até o fim. Até começou bem, com medidas de impacto na área da saúde. Mas apenas começou bem. Logo se percebeu que o atendimento médico dado a pobres em hospitais caríssimos era apenas ocupação de horários ociosos. Mas “pegou bem”.
Mas também revelou o lado sombra do homem: gostar de mandar e de exibir o poder que detém. Para chegar lá, Doria também deixou feridas graves no caminho do então PSDB.
Um exemplo está na reunião do partido logo depois do primeiro turno da eleição de 2018. Com a Executiva nacional reunida em Brasília, João Doria chegou com os dois pés na porta, dizendo: “Não posso imaginar que um partido da dimensão do PSDB não tenha projetado a existência de um segundo turno, seja para Presidência da República, seja para os governos. Se não fez, errou”. Era uma cobrança por mais dinheiro para a campanha do segundo turno.
Presente à reunião, o presidente nacional da sigla, Geraldo Alckmin, lembrou que Doria era o “temerista” do partido (aliando-se a Temer). E mais do que tudo, Alckmin declarou: “não sou traidor”. Alckmin estava apenas lembrando que Doria tentou substituí-lo na disputa à Presidência, provocando um trauma, e racha, no partido.
Há outros episódios em que o assunto traição pode ser lembrado mas o que entrou para a história, como símbolo de “cara-de-pau”, foi a negação da aliança com Jair Bolsonaro no segundo turno da mesma eleição. Surgiu ali a figura do “bolsodória”, hoje negada pelo governador.
Quem o viu e ouviu sabe que João Doria usou o nome de Bolsonaro para se eleger. E a prova de que o atual governador já não convencia pelo que dizia apareceu em algumas cidades de São Paulo, onde o candidato Márcio França venceu João Doria no segundo turno depois de ter perdido fragorosamente no primeiro turno.
No espaço de tempo entre um turno e outro, o eleitor mudou seu voto. Vamos ficar com um único e ilustrativo exemplo. No primeiro turno, em Osasco, cidade de 700 mil habitantes, vizinha da capital, João Doria obteve 106 mil votos enquanto França ficou com 69 mil votos. No segundo turno, França conseguiu 189 mil votos contra 176 mil do atual governador.
França fez campanha contra Doria batendo fortemente no caráter “duas caras”, de “pessoa que não honra compromissos”, que “só pensa em si mesmo”.
Os atuais acontecimentos decorrentes da pandemia do coronavírus estão servindo, de novo, para o apetite do governador por mais poder. Mesmo sendo um profissional da comunicação, aplicando no estilo de governar o perfil de executivo de empresa, João Doria teria de mudar a si mesmo para se fazer ouvir. Por enquanto, o que ele é continua falando mais alto.
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